Ping Pong com Py Salles - Fotógrafa e Designer
Girl from Porto Alegre, Pyetra (Py) Salles, 23 anos, é fotógrafa, designer, DJ e rolêzera nas horas vagas. A famosa cena musical da capital gaúcha e seus bastidores costumavam ser registrados pelas lentes de Py (isso antes da pandemia, é claro). Apesar da pouca idade, ela vem se destacando cada vez mais no cenário underground de Porto Alegre, rompendo a bolha dos pampas e chamando a atenção de veículos especializados em todo o país, que viram em Py um respiro de contracultura.
Dona de comportamento e espírito criativo, ela é capaz de observar cenas que passariam despercebidas por muitos profissionais experientes. É testemunha ocular de momentos sublimes da vida urbana que raramente recebem a devida atenção.
Os pés no chão da artista alçam voos embebidos de conceitos cyberpunk, estética distópica que fica evidente na festa “Pane” e em seu podcast na plataforma “Gou Criativa”, ambos promovidos por Py e seus amigos.
Suas fotografias são registros de um tempo singular que, além de servirem para seu bel-prazer, são ensaios do cotidiano da cidade grande, seus porões e as riquezas que estes reservam, questionando e ilustrando aquilo que muitos de nós entendemos por “normal” e o que de fato acontece. Seu trabalho é um flagrante da natureza humana, refletida inclusive, em seus projetos e em seu próprio estilo de vida. A mulher faz tudo.
O TCC do curso de design, foi um exercício digno de Sherlock Holmes. Além de nos presentear com um serviço cultural relevante e curioso, como uma NERD de respeito, Py elaborou um estudo sobre a estética de discos, clássicos e contemporâneos, cujas capas e encartes foram feitos por mulheres. É maravilhoso saber que a icônica foto utilizada na capa de “Ramones” foi feita por Roberta Bayley. Nada bom é quase ninguém saber disso. Se hoje artistas que atuam nos bastidores não recebem o devido reconhecimento, no passado os créditos a estes colaboradores e, principalmente colaboradoras… créditos?
conheça as algumas das referencias da artista em nosso Ping pong:
JVC: Skatistas: Breana Geering, Pedro Barros ou Dylan Rieder?
PY: Breana Geering (indicação de PY). Acompanhar ela me incentivou muito a voltar a andar de skate. Eu andava quando bem nova, mas me sentia muito deslocada no meio de um monte de boy exibido kkkk. Tiravam comigo por ser menina no rolê do skate também, então vazei. Daí voltei agora, mais velha, depois de ter pego várias referências de minas que tão mandando MUITO bem, e a Breana é uma delas.
JVC: Cineastas: Spike Jonze, Jim Jarmusch ou Wim Wenders?
PY: Wim Wenders, talvez por ele ser fotógrafo, me identifico mais com as produções dele.
JVC: Filmes: Kids, La Haine ou Pixote?
PY: La Haine, e o motivo também é a fotografia kkk, eu gosto dos 3. Mas La Haine ganha já que “me agrada aos olhos” hahah e tem o Vincent Cassel que eu AMO.
JVC: Artistas Plásticos: Os Gêmeos, Kaws ou Takashi Murakami?
PY: Os Gêmeos!!! Essa foi fácil porque sou muito fã do trabalho deles e fico muito feliz por eles serem brasileiros.
JVC: Fotógrafos: Bob Wolfenson, Youknowmyface ou Annie Leibovitz?
PY: Annie Leibovitz, não tanto pelo estilo de foto, mas por ter sido minha primeira referência na fotografia e ter trabalhado muito no cenário da fotografia musical.
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
ENTREVISTA COM FLÁVIO SAMELO - fotógrafo e vídeomaker
Desde 1992, FlÁvio Samelo anda pelas ruas de São Paulo fotografando skatistas. Alguns deles eram também grafiteiros e outros pichadores que acabavam convidando Samelo, como é conhecido, para fotografar os grafites e os pixos também pelas ruas da cidade. Esse foi o começo de muita coisa para o fotógrafo que acabou entrando para a arte pelas ruas, assim como entrou na fotografia.
Essa outra produção acabou levando Samelo a introduzir em suas fotografias de skate, os grafites, pichações e outros elementos urbanos que lhe chamavam a atenção nas sessions de skate e que foi seu diferencial durante o começo de suas fotografias. A partir de então os trabalhos começaram a ter cada vez mais uma busca de um resultado plástico e gráfico que unisse as fotografias urbanas com a teoria e a pesquisa visual sobre a arte abstrata concreta que tanto o agradou, e artistas como Geraldo de Barros, German Lorca, Thomaz Farkas, Hélio Oiticica, Lygia Clark e tantos outros dessa época se tornaram referência de suas pesquisas.
Hoje, Samelo se divide em dois ofícios: a produção fotográfica onde todas as fotos tem tiragem única, tornando-as originais indiscutíveis e assim como suas pinturas e painéis, vem buscando uma nova maneira de misturar a fotografia com a pintura concreta que vêm produzindo, usando fotografias como base das pinturas e transcendendo os limites da fotografia usando formas, cores e linhas dando uma nova realidade gráfica as suas fotografias. Esses trabalhos já foram expostos em leilões, museus e galerias em todo o Brasil e no exterior. Também participou da 5ª Bienal Vento Sul, em Curitiba em 2009, com uma sala específica para sua obra.
CONHEÇA ALGUNS TRABALHOS DE FLÁVIO:
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
GRAFFITI EM FLORIANÓPOLIS
"O grafitti assim como a pixação e o muralismo fazem parte de uma cultura, o Hip Hop, uma trajetória artística legítima e que não necessariamente está pautada por uma formação escolar, mas por um tipo de sociabilidade das ruas, um espaço onde você deve estar aberto para encontrar aquele que é diferente”- Rafael Devos, antropólogo -
VALE LEMBRAR QUE GRAFFITI, PICHAÇÃO E MURALISMO FAZEM PARTE DE UM MOVIMENTO MAIOR, O HIP HOP. NESTE SITE ENTENDEMOS AS TRÊS VERTENTES COMO ARTE, SEJAM ELAS DE PROTESTO OU NÃO, INDEPENDENTE DE FEIURA OU BELEZA, ISTO DEPENDE DO PONTO DE VISTA DE CADA PESSOA.
A REGRA É SIMPLES, SE VOCÊ FOR FLAGRADO PELA POLÍCIA PRATICANDO ALGUMA DESSAS MODALIDADES SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL, MURO, PRÉDIO OU QUALQUER OUTRA SUPERFÍCIE, VOCÊ ESTARÁ COMETENDO UM DELITO. COM AUTORIZAÇÃO SUA ARTE PODERÁ SER FEITA EM PAZ.
entrevista com GUGIE - Muralista
As cores vibrantes que ilustram de cima a baixo a fachada de um prédio em Florianópolis traçam as formas de duas pessoas, que apesar de anônimas, preenchem os olhos de qualquer um que, onde quer que se encontre no centro da capital para, observa, tira foto e segue sua jornada com o coração aquecido e os sentimentos mais aguçados.
Natural de Brasília (DF), ela adotou Floripa como sua morada aos dez anos de idade. Quando passou a frequentar as rodas de breakdance, ela não precisou ir muito longe para descobrir sua maior paixão e seu futuro ofício: as artes em muros, telas e plataformas digitais. A plasticidade das performances de break influenciam muito do que vemos no trabalho de Gugie.
Filha de artista plástico, Gugie conheceu o mundo do muralismo quando viajou para Buenos Aires, onde a prática já era mais desenvolvida, ao retornar para Santa Catarina, com a consciência expandida, trouxe consigo toda essa experiência. Sem deixar de valorizar a trajetória de artistas autodidatas, ela, no entanto, ressalta a importância do aprendizado técnico, justamente para respeitar, representar e valorizar, da melhor maneira possível, a cultura da arte de rua. Curiosamente, diferente de outros artistas do ramo, Gugie relata que nunca teve boa caligrafia, mas o ímpeto de contar histórias através de seus trabalhos a levou ao curso de artes, tendo inclusive de conciliar os estudos com a rotina pesada do trabalho convencional.
O aspecto turístico atribuído aos desenhos em paredes encontra no muralismo seu maior expoente. Esta derivação do graffiti se faz cada vez mais presente, principalmente na parte insular da cidade, contando inclusive com apoio financeiro de instituições privadas. Estamos tratando de obras de arte expostas em museus a céu aberto, pensadas e executadas com maestria e em grande escala.
A imagem de um motorista de aplicativo e sua esposa, escancara aquilo que nos acostumamos a entender como ordinário, transformando gente como a gente em arte da mais pura qualidade.
“Fui conhecer o seu Mario, ouvi ele. Então combinei de ir até a casa dele conhecer a família e fotografei todo mundo, a esposa, os netos. E foi muito especial pois consegui direcionar as fotos que tirei para o que eu esperava provocar com a pintura. Além do mais que amo a simplicidade, a coisa do olhar afetuoso […] deixa meu coração quentinho. Fiquei muito feliz com o processo dessa arte. Olha pra eles, conhecer, dar visibilidade, trazer com cor tudo que eles me transmitiram.. Não foi só uma oportunidade de crescer como artista mas como pessoa” - Gugie -
Como artista multimídia, a artista desenvolve sua verve poética em diferentes formatos: muros, telas, performance e desenho digital. Propõe com suas criações uma estética relacional, onde o contato e a interação com suas obras se traduzem em uma ativação de sensibilidade coletiva.
De acordo com suas palavras, enquanto pessoa negra, mãe e mulher, Gugie busca nas artes produzidas nas ruas um espaço de diálogo, fortalecendo a visibilidade de pessoas que são racializadas e excluídas na estrutura social. Sobretudo propõe naturalizar no imaginário social a presença digna dessas pessoas, as quais ela se identifica, desconstruindo a cultura visual que estão condicionados no decorrer da história.
“Como artista, eu vejo o graffiti não somente como uma intervenção urbana, entendo o graffiti como uma arte relacional, uma arte que desperta sentimentos em vários subjetivos, uma arte que modifica o ambiente, que cria uma descontinuidade, disparando sensibilidades coletivas, isso é muito maior, é muito mais forte” - gugie -
CONHEÇA ALGUNS TRABALHOS DE GUGIE:
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
entrevista com "VEJAM" - Grafiteiro e Pichador
Na altura dos olhos, no alto dos prédios, letras, desenhos e assinaturas marcam, ou melhor, demarcam territórios, historicamente delimitados por políticas públicas e privadas que há tempos privilegiam um pseudo conceito de beleza urbana. Esse “ideal” do que seria esteticamente aceito para determinado ambiente permeia muitas cidades brasileiras e Florianópolis não foge a regra.
A capital catarinense ostenta paisagens paradisíacas, cenários perfeitos para o fomento da pluralidade cultural, mas que apenas recentemente vem incorporando aos grandes centros urbanos a arte vinda de suas margens. Os graffitis que aos poucos preenchem paredes antes lisas, passam a ser notados e apreciados por cidadãos ilhéus e turistas, que, na correria do dia a dia, parados no trânsito ou subindo as ruas do centro, têm a oportunidade de apreciar a expressão de artistas como o João, 33 anos, o ”VEJAM”.
João Carlos trabalha com graffiti há cerca de 20 anos, pode-se dizer que o homem nasceu para fazer arte. Desde criança gostava de expressar sua criatividade através de desenhos. A ânsia por conhecer as ruas e o que elas tinham a lhe oferecer veio através do skate na adolescência e o que mais lhe chamava atenção em seus “rolês” eram os grafites. Desde então, o ponto focal de João passou a ser os muros da cidade e como estes eram aproveitados (ou não) artisticamente.
“O que eu via nas ruas de Florianópolis eram, basicamente, pichações políticas ou de torcidas organizadas” – VEJAM –
Em uma de suas aventuras no graffiti, João adotou o codinome “VEJAM”, vulgo pelo qual se tornou amplamente conhecido, passando a integrar a mais notável geração de grafiteiros de Floripa, tendo seu trabalho reconhecido internacionalmente.
De acordo com o artista, o princípio básico do grafite é vivenciar a rua, funciona quase como uma sessão de terapia, onde o divã são os muros e a tinta o psicólogo. Filho do movimento Hip Hop, ele acredita que atualmente as artes plásticas nas ruas conseguiram a emancipação de algo maior, uma vertente que de tão rica e complexa vem se tornando cada vez mais autossuficiente como cultura, sem é claro, esquecer suas origens.
“É uma linha tênue e essa essência às vezes se perde pelo contexto social, como a sociedade de modo geral enxerga este movimento transgressor, englobando artes que não são grafite, apesar de utilizar as técnicas do grafite, mas que nem sempre carregam o ato transgressor, inerente ao grafite” – VEJAM –
Para ele, uma constante preocupação é permanecer fiel à essência do movimento, mantendo essa chama acesa. Dentre as variantes do grafite citadas por “VEJAM”, está a pichação, que utiliza de escrituras ou assinaturas (tags) inseridas em qualquer superfície para manifestar ou reivindicar algum direito. Ela pode vir de qualquer um, sem distinção, mas quando feita por pessoas vindas de periferias adquirem caráter de protesto para além do visual.
CONHEÇA ALGUNS TRABALHOS DE "VEJAM":
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
Entrevista com Rizo - Grafiteiro e muralista
Camaleões são conhecidos popularmente por apresentarem características peculiares, como girar os olhos em até 60° e mudar a coloração de sua pele. Nem todas as espécies possuem a capacidade de mudar de cor. O camaleão é um excelente exemplo de adaptação e o poder de seu mimetismo permite que ele se adapte a diferentes ambientes e cenários. Em Florianópolis inclusive, podemos encontrar diversos espécimes do réptil nos muros da cidade.
Os famosos camaleões da capital se espalham pelas paredes, marquises e viadutos de Floripa e são compostos por tinta e spray, por trás deles está Rodrigo Menegal do Rizzo. Paulista radicado manezinho, assim como muitos filhos de pais militares, Rodrigo viajou por quase todos os cantos do Brasil durante sua infância, mas foi na capital paulista que descobriu, através do skate e da cultura Hip Hop, a paixão pelas ruas.
Apaixonado por desenho desde a infância, Rizo começou a se aventurar pelo graffiti aos 13 anos. Sempre muito curioso e observador, já em Florianópolis, ele costumava guardar em sua caixinha de memórias os pontos da cidade onde havia graffitis e pichações que lhe chamavam a atenção. Levando esse “catálogo mental” de referenciais para onde quer que fosse.
Como quem procura acha, Rizo contou com uma leve contribuição do destino: em uma viagem de ônibus ele “trombou” justamente com um dos autores dos desenhos que há tempos admirava e a troca de ideias inspiradoras foi imediata.
“Comecei jovem, desenhando nos cadernos. Dos cadernos passava para a parede. Minha primeira exposição individual foi em 2009, quando comecei a trabalhar com a figura do camaleão, que se tornou minha assinatura” - Rizo -
As coincidências não param por aí, Rizo fez o ensino médio no mesmo colégio de outro personagem famoso pelas assinaturas por toda a capital, o “VEJAM”. Além do círculo de amizades que o acompanham, a união de referências e observação agregam no vasto repertório do artista.
Sem nunca ter feito um curso superior de artes ou aulas formais de desenho, ele aprendeu na prática a profissão que hoje exerce: é artista plástico, artista de rua, grafiteiro e muralista. A exemplo das características dos camaleões, Rizo consegue se adaptar a diversos ambientes e estilos para elaborar seus graffitis.
“Eu aprendi mesmo na prática, desenhando no papel e fazendo nos muros. O graffiti sempre foi meu foco principal. Não se tratava exclusivamente de evoluir no desenho: se tratava mais de desenvolver um estilo que me distinguisse dos demais, que fosse marcante e que criasse uma presença na cidade” - Rizo -
Co-criador do projeto Street Art Tour (ao lado dos produtores culturais Marina Tavares e Arturo Valle Junior), Rizo assina grandes paineis pelas ruas do Centro de Floripa – como o mural Cisne Negro, em homenagem ao poeta Cruz e Sousa; e, mais recentemente, o Natureza do Desterro, tributo à natureza que cerca a Ilha de Santa Catarina.
Os desenhos do artista camaleônico despontaram e foram reconhecidos pelo mercado internacional. A convite, Rizo expôs suas obras na Suécia, Dinamarca, Itália, Peru, Chile, e Miami, onde levou seus camaleões até a Art Basel, uma das maiores feiras de arte contemporânea do mundo.
“A maioria dos grafiteiros ocupam o muro como uma tela em branco, a minha ideia é justamente dar vida aos muros, como se ele fosse um habitante da cidade. Esse camaleão transmite a ideia de adaptação, cada espaço pede formas e cores diferentes, para que se obtenha um destaque dentro de uma paisagem cheia de interferências” - Rizo -
CONHEÇA ALGUNS TRABALHOS DO RIZO: