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Aracaju pela ótica da (infra)estrutura Uma cidade de memória apagada, presente invisibilizado e fututo incerto

Por Alanna Suélen e Tatiane Macena

A Infraestrutura é o conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socieconômico de uma cidade, como saneamento, transporte, energia e telecomunicação. Já as avenidas, praças, parques, ruas, travessas e largos integram a estrutura de uma cidade. Em conjunto infraestrutura e estrutura falam muito sobre identidade. Nesta fotorreportagem, o intuito é apresentar os problemas de infraestrutura e de estrutura na cidade de Aracaju e como eles afetam a condição de vida da população, em seu passado, presente e futuro.

Aracaju foi escolhida para ser a capital do estado, por questões geográficas e econômicas. O engenheiro Sebastião Pirro fez a planta da capital em um formato que lembrava um tabuleiro de xadrez. A projeção ficou conhecida como quadrado de Pirro e os políticos da época passaram a dizer que a cidade foi a primeira capital brasileira planejada. Assim, em 1855, o município nasceu na região central, sobre uma infraestrutura preparada para receber os empreendimentos da época. Da fundação da capital até hoje, a importância econômica do Centro diminuiu e, com ela, o respeito ao valor histórico e à memória da capital.

Como consequência do crescimento da cidade, em 1982, foi criada a Zona de Expansão Urbana (ZEU), em um área que era rural, na qual antigos sítios foram sendo substituídos por casas veraneio. Segundo a doutora em arquitetura e urbanismo e professora da Universidade Federal de Sergipe, Sarah França, a ZEU, atualmente, não tem o suporte necessário para empreendimentos, devido precariedade na infraestrutura, que não garante a qualidade de vida dos moradores. Em fronteira com a ZEU, está o bairro Santa Maria, onde ficam evidentes outros problemas da cidade, com destaque para a precarização urbana, a falta de políticas públicas para algumas regiões e a desigualdade socioespacial.

O futuro da capital, para a professora Sarah, deve ser construído a partir da reestruturação de espaços pré-existentes. "É reconstruir espaços. A cidade não precisa se ampliar em termos de extensão, nós temos vários vazios urbanos na cidade, então, pra mim, o futuro é ocupar esses espaços vazios, já infraestruturados, oportunizando melhores condições a essas pessoas que já moram ali, por exemplo, o Centro da cidade, que tem infraestrutura necessária, concentração de postos de trabalho, comércio e serviços. Por que não aproveitar?", questiona Sarah.

Memória apagada

O centro de Aracaju é rico em história, com prédios e casas antigas que são vestígios do passado da capital sergipana, no entanto, essa memória está aos poucos sendo apagada. A falta de manutenção e de uma função social, pensadas para as especificidades desse local, é um problema para a preservação da história dos sergipanos.

Na arquitetura antiga, as rachaduras nas paredes são rastros de um tempo distante, em que nossos antepassados viveram. Olhar para essas ruas traz uma sensação de que o novo está ofuscando a história, além disso os pequenos rastros desrespeitam o direito das novas gerações de conhecer o próprio passado. O que restará a não ser fotos e documentos que nos contem o que havia ali?

De tempos em tempos, é necessária a manutenção da estrutura, na falta dela, se apaga a memória. Foto: Alanna Suélen
Degradação estrutural e poluição visual estão presentes no centro histórico de Aracaju. Foto: Alanna Suélen
As histórias escritas no colégio Unificado ficarão presentes apenas na memória dos alunos. Foto: Alanna Suélen
Com perigo de colapso estrutural, o antigo prédio do INSS segue apresentando risco à população. Foto: Alanna Suélen
É preciso preservar ou, aos poucos, a memória será inevitavelmente deletada. Foto1: Alanna Suélen. Foto2: Tatiane Macena

Precarização urbana

Localizado na periferia de Aracaju, o bairro Santa Maria, é um exemplo de abandono e invisibilidade em questões de estrutura e infraestrutura. Segundo o censo demográfico do IBGE de 2019, o bairro comporta em torno de 38 mil habitantes, que diariamente vivem com problemas de saneamento básico. Falta acesso à água, ao esgotamento sanitário e à coleta de lixo. Faltam também ruas asfaltadas e espaços para o lazer. Segundo Luciene Conceição Lopes, moradora do bairro Santa Maria, o local é esquecido pela gestão municipal. “Se diz que aqui é a Gasoduto, por que não fizeram direitinho? Aqui é tudo paliativo… aqui eu fico jogada à mercê, uma lameira, quando chove a gente vai e tira o chinelo, coloca a bolsa de plástico no pé e passa. Quando a chuva vier, a água que vem do morro vai arrastar tudo”, desabafa Luciene

Sem saneamento básico, os moradores do bairro Santa Maria são impactados no dia a dia. Fotos: Tatiane Macena
A população relata descaso na região e a consequência disso é o risco à saúde. Foto: Tatiane Macena
Descarte de lixo em locais inadequados escancara a falta de saneamento básico. Foto: Tatiane Macena
Apesar do direito ao lazer, crianças têm a diversão comprometida devido a falta de estrutura. Fotos: Tatiane Macena

Vazios urbanos

De 1982 até hoje, Aracaju tem estendido sua área territorial para a região sul da cidade, na denominada Zona de Expansão. Apesar de ser um espaço visado para o crescimento da capital, os problemas de infraestrutura, como falta de pavimentação, de esgotamento sanitário e de uma rede de drenagem pluvial, que atenda a toda localidade, se torna um empecilho quando falamos em empreendimentos. Fazendo com que a ZEU não seja a região mais apropriada quando pensamos no futuro da cidade.

O despreparo na infraestrutura da Zona de Expansão acarreta no esvaziamento urbano. Foto: Alanna Suelen
Com área delimitada de 100 mil metros quadrados, o shopping Praia Sul está em construção desde de 2018. Fotos: Tatiane Macena.
Nos vazios urbanos, devido a falta de infraestrutura, a especulação imobiliária é constante. Fotos: Alanna Suelen
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