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Através do programa Inovatur, com apoio da Setur (antiga Santur) e da Fapesc, 6 edições levarão você a diversos cantos de Santa Catarina através de pequenos produtores de comida artesanal e profissionais que fazem do turismo gastronômico uma experiência inesquecível.
Nesta 1ª edição, a Inovação é o centro da conversa. Você vai conhecer quatro iniciativas originais que fazem do turismo uma ferramenta de transformação.
Boa viagem e bom apetite!
Saboreie as histórias dessa edição:
Acolhida na Colônia
Produtores rurais se unem, apostam na agroecologia e agora comemoram sucesso e sustentabilidade.
Guia Manezinho
Ele transformou a história de Florianópolis num saboroso tour pelas ruas da cidade.
Inovatur
Conheça o programa que vem ajudando muitos catarinenses a transformar ideias inovadoras em realidade.
Tekoá Pirá
Duas tradições culturais e gastronômicas da Ilha de SC são resgatadas num projeto turístico de base comunitária.
Boa leitura!
Um turismo sustentável e acolhedor
Um chalé aconchegante...
…com uma vista indescritível!
É nesse cantinho abraçado pela natureza que o visitante é recebido quando chega na casa da família Baumann, famosa produtora de mel das Encostas da Serra Geral.
É preciso pegar a Estrada Geral Barra do Rio do Meio, em Santa Rosa de Lima, para chegar ao local, em meio à Mata Atlântica.
Receber pessoas é uma das atividades que mais alegra Dida, apelido carinhoso de Leonilda Boeing Baumann, dona da pousada.
Desde que descobriu o agroturismo, Leonilda passou a aliar produção agroecológica com hospedagem - e diz nunca ter sido tão feliz.
"Sou falante, gosto de conversar com pessoas de tudo que é lugar e criar experiência. É isso que quero da minha vida, trabalhar com a terra e com o turismo."
Nascida e criada na roça, Dida (como Leonilda é conhecida) passou a receber turistas há 30 anos, quando 15 famílias se uniram para criar a Associação dos Agricultores Agroecológicos das Encostas da Serra Geral (Agreco).
Isso estimulou uma mudança radical na região.
Daniele Gelbcke, assessora técnica do projeto Acolhida na Colônia, conta o que provocou essa mudança: “Encostas é um corredor ecológico, tem muitas nascentes de rios. Na década de 90, a área era forte produtora de tabaco, que usa muitos insumos químicos.”
“Os agricultores estavam adoecidos, endividados, largando a agricultura. Aí começaram a discutir o que poderiam fazer para um desenvolvimento sustentável."
Em contato com uma experiência bem sucedida de agroturismo realizada na França, os produtores da Agreco decidiram embarcar na ideia.
Assim criaram a Acolhida na Colônia, iniciativa que trouxe vida nova ao campo.
De 15 famílias, hoje são mais de 100.
A Acolhida cresceu e se tornou Federação, um grande grupo de Associações de Santa Catarina e São Paulo, todas aliando produção agroecológica e turismo.
É uma ferramenta de educação e transformação. Cada visitante que chega pode entrar em contato com as dores e delícias do trabalho rural, participar da produção sustentável, viver a vida da família agricultora por um ou mais dias.
É o turismo para além da renda, mas como bandeira de valorização da mulher e do homem do campo.
Algumas atividades nem incluem hospedagem, são roteiros de um dia sobre a rotina da fazenda.
Uma das experiências mais concorridas na casa dos Baumann é com as abelhas sem ferrão: o turista pode tomar o mel de canudinho direto da caixa.
A produção acontece o ano todo, mas só no verão se pode extrair o mel.
Dida explica por quê: "A abelha sem ferrão tem produção pequena e a gente respeita isso. A abelha faz mel pra ela comer, só o excedente a gente pega."
aqui começa uma nova história
ALMÔNDEGA, CERVEJA ARTESANAL E MUITA HISTÓRIA!
E divertida também!
Desde que o Guia Manezinho trouxe para a cidade os walking tours, que são caminhadas guiadas com alguma temática principal, até a porta da Catedral Metropolitana passou a ser vista com outros olhos.
Isso, claro, para quem já participou de pelo menos um dos mais de 20 roteiros criados por Rodrigo Stüpp, o jornalista que deu vida ao Guia Manezinho.
Nascido em Florianópolis e apaixonado pela cidade, Rodrigo vivia incomodado com a imprensa local, que não tratava da Ilha de Santa Catarina como poderia.
“Passei dez anos fora de floripa, e quando voltei não encontrava mais o que tinha antes”, conta.
Ele pegou essa insatisfação e uniu com a experiência dos walking tours que fez em outras cidades: assim nasceu o Guia Manezinho.
Em 2016, lançou o primeiro tour em Coqueiros, um bairro continental da cidade. Aproveitou que tinha um bar de cerveja local, pediu pra adicionar um petisco de pirão com linguiça, e pronto!
Ali começava a trajetória do Guia Manezinho!
Em 2019 o projeto deu a Rodrigo o Prêmio Nacional de Turismo na categoria Micro e Pequeno Empreendedor do Ano. Entre 800 inscritos de todo o Brasil, ele ficou em primeiro lugar.
Sorte de Floripa, que ganhou um fiel pesquisador dos elementos históricos e culturais da capital catarinense. Entre os roteiros criados por Rodrigo estão o Tour das Bruxas, Novembrada, Negro sem Desterro e Centro Histórico.
O grande diferencial do Guia Manezinho está na forma como se comunica durante os tours.
“Não queria só uma atividade turística, queria me comunicar com as pessoas da cidade”.
É valorizando a cultura do povo da cidade, que ele se tornou um dos porta vozes da identidade mané (forma carinhosa de chamar as pessoas nascidas em Florianópolis).
Por meio de elementos como literatura local, música e comida, Rodrigo atrai moradores e turistas nacionais e internacionais para seus roteiros.
Ele já fez walking tours com um sheik do Bahrein, país do Oriente Médio, com jornalistas da Vogue Itália, com o diretor de marketing da Warner, entre outros.
O que percebeu é que cada vez mais as pessoas querem provar o que é local. “Luxo hoje é a exclusividade”, diz.
Por isso o sheik provou pastel de berbigão e caldo de cana, e as jornalistas da Vogue foram a uma benzedeira.
É a simplicidade presente no dia a dia de Florianópolis e as histórias da cidade que inspiram Rodrigo na criação de walking tours com novas abordagens.
Sempre contando essas histórias com um olhar diferente…
O roteiro tem início no Bar do Largo d'Alfândega, que além de ficar em meio a construções importantes da cidade, possui um cardápio com ingredientes regionais como araçá e gin catarinense.
DE LÁ A CAMINHADA COMEÇA. A PRIMEIRA PARADA É NO QUIOSQUE DO MOZO, ONDE É SERVIDA UMA ALMÔNDEGA CUJA RECEITA TEM 40 ANOS.
Depois o percurso segue para o Centro Bugio, localizado no novo reduto boêmio de Floripa, com cerveja artesanal local.
O tour termina no Franklin Bar, que tem drinks com nomes como Istepô Spritz, grafites e esculturas do artista Thiago Valdì. É no Franklin que acontece um brinde com a adaptação do Rodrigo da Oração das Bruxas, recuperada pelo próprio Franklin Cascaes, pesquisador e folclorista manezinho.
Um tour ricamente diferente, que integra elementos da história e da cultura de Florianópolis, e faz os participantes imergirem nos sabores e tradições gastronômicas da cidade.
Rodrigo está sempre trabalhando na montagem de roteiros, mas quem busca gastronomia, logo vai ter mais uma opção.
AQUI COMEÇA UMA NOVA HISTÓRIA
Inovação no setor turístico de Santa Catarina
Pois ela existe e acontece na Doce Rancho, uma fábrica de chocolates localizada na charmosa cidade catarinense de Rancho Queimado.
A proposta de desenvolvimento de turismo na fábrica foi selecionada pelo Inovatur, o primeiro programa de inovação para turismo do Brasil. E, graças a ele, hoje é um sucesso.
O Inovatur existe desde 2020.
Nas três edições realizadas, já foram contempladas 40 soluções, e a Visita à Fábrica de Chocolates Doce Rancho foi uma delas.
A empresa recebeu R$ 60 mil para desenvolver um projeto de pesquisa para implantação de uma fábrica de chocolate com produção própria e aberta a visitação turística e pedagógica.
Outras cinco propostas ligadas à gastronomia catarinense foram contempladas:
- Beer Hub, um clube de assinaturas de cervejas artesanais catarinenses, que também proporciona turismo nas fábricas;
- Terroir Turismo, plataforma de experiências únicas com produtos agroalimentares;
- Tour Gastronômico, um guia com diferenciais de ofertas gastronômicas;
- Tô de Férias, uma solução de delivery para a orla das praias;
- e o próprio Comida com História, que conecta os atores ligados à gastronomia com o público final por meio de conteúdos inovadores.
Todas as soluções devem estar alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
crescimento econômico, redução das desigualdades e consumo e produção responsáveis foram alguns já alcançados.
O Inovatur é realizado pela SETUR (Secretaria de Estado do Turismo - antiga SANTUR), FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina).
A UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí) entra como parceiro academia, realizando as mentorias e workshops ao longo do programa.
A coordenadora do Inovatur, Luana Emmendoerfer, conta que o programa foi se aprimorando a cada edição, sem nunca perder o foco principal, que é conectar soluções inovadoras com o mercado e o trade turístico.
Por isso visitas técnicas, missão empresarial e rodadas de negócio para networking fazem parte das atividades que os selecionados devem participar.
Luana explica que Santa Catarina sempre foi destaque em turismo e inovação, mas que os dois segmentos nunca se conversavam.
“A ideia foi aproximar os dois segmentos para reinventar o setor turístico”, relata.
Startups e empresas maduras que queiram inovar podem se inscrever no Inovatur, que não se limita à transformação digital dos negócios turísticos, mas também a propostas que queiram fazer algo diferente, inovador.
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“É um programa que dá oportunidades para novos produtos e experiências de ofertas turísticas do nosso estado estarem no mercado”, fala Luana.
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O Inovatur ficou em terceiro lugar na categoria Academia, Destinos e Empresas pelo Desafio Turistech Brasil, realizado pelo Ministério do Turismo e parceiros. As propostas aprovadas envolvem 24 municípios em 11 regiões turísticas de Santa Catarina.
AQUI COMEÇA UMA NOVA HISTÓRIA
SALVE A CULTURA NATIVA
A menina cresceu e hoje trabalha pra manter viva essas duas tradições.
Duas atividades quase inseparáveis quando se fala em cultura manezinha. Tainha com farinha já era base alimentar dos nativos da ilha, e até hoje é uma das combinações mais apreciadas tanto pelos moradores de Florianópolis quanto pelos turistas.
Um prato que fica ainda mais gostoso se desfrutado em comunidade.
Roberta de Paula Braz, a menina que viveu intensamente essa tradição na infância, explica porque é tão importante mantê-la viva hoje também.
"É uma das identidades que os índios nos deixaram: compartilhar. Para eles, todos tinham que ter o peixe na mesa. Até hoje a pesca e o engenho são o momento que o nativo se reconhece na ilha."
Mais do que prato, é um modo de vida local que Roberta aprendeu a amar desde cedo - até se tornar uma missão.
Em 2017, durante um curso de guia turístico no Instituto Federal de Santa Catarina, ela e a colega Gisele Sílvia Ramos decidiram criar um projeto para proteger a pesca e os engenhos, para que a identidade da ilha siga viva para as próximas gerações.
Em 2019, elas conquistaram o registro da pesca artesanal da tainha como Patrimônio Imaterial de Santa Catarina no Campeche.
Assim nascia o Projeto Tekoá Pirá, uma ação de salvaguarda para as atividades de pesca e de engenho feita através do turismo de base comunitária.
No roteiro, o turista é recebido no engenho de farinha e segue por uma trilha do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. Passa pela ponte do rio do Noca, local em que os nativos pescavam e até aprendiam a nadar.
"É UM LUGAR DE MEMÓRIA DA COMUNIDADE MUITO FORTE.”
A tainha vem acompanhada de tudo que é mais típico, como pirão, farofa de banana e cuscuz.
Roberta explica que a ação chamada de Salvaguarda amplia a noção de turismo: ele não é mais um produto, mas uma ferramenta de educação e proteção.
O engajamento do Tekoá Pirá com a comunidade vai além dos roteiros. Roberta e Gisele também trabalham como articuladoras das demandas dos pescadores junto aos órgãos públicos.
Apoio cada vez mais necessário na medida em que o poder econômico ganha espaço onde antes prevalecia a identidade local.
"A especulação imobiliária no Campeche estava quase concretando nossa história!”
Esperamos que você tenha gostado de acompanhar essas histórias cheias de sabor neste novo formato.