Lisboa, 10 fev 2023 (Ecclesia) – O Ginásio Cerebral Sénior Comunitário é um projeto da Casa de Saúde da Idanha, das Irmãs Hospitaleiras, em parceria com a Câmara de Sintra, e quer promover o envelhecimento ativo através de aulas bissemanais numa resposta de prevenção na área da saúde mental.
“Já usufruíram das aulas de ginástica cerebral 549 seniores e cerca de 400 seniores das ações de literacia em saúde no âmbito da prevenção das demências”, conta Carla Pombo, coordenadora da área das demências, em declarações à Agência ECCLESIA.
O Ginásio Cerebral Sénior Comunitário iniciou a atividade em 2018, “sofreu adaptações em tempo de pandemia” e abriu portas em dezembro de 2022, no Cacém.
“Surgiu em 2018 com o apoio do prémio Fidelidade Comunidade e visa a promoção do envelhecimento ativo, saudável e inclusivo dos seniores do município de Sintra”, refere.
“Sendo uma estrutura comunitária e de portas abertas, todos os dias há pessoas novas a quererem integrar estas aulas de ginástica cerebral, mas não sabem que exercícios vêm fazer, ficam surpreendidas por vir fazer exercícios mediados por computador e robots e, na primeira sessão, ficam apreensivos”.
Carla Pombo explica que as pessoas são “encaminhadas pelas juntas de freguesia e estruturas de comunidade que atendem idosos”, mas ainda há outros seniores que são “referenciados pelas unidades hospitalares e outros encaminhados de consultas de neurologia para estimulação cognitiva”.
Os interessados são, “na sua maioria residentes na zona”, e chegam com a curiosidade de vir a estas aulas de ginástica cerebral.
A responsável conta que, “com o decorrer da sessão”, os seniores vão ganhando confiança e “facilmente integram as atividades”.
“É tudo feito em clima de jogo e são atividades muito estimulantes, fazem com que os seniores se mantenham no programa um ou dois anos”, indica.
Carla Pombo, a coordenadora da área das demências, faz uma visita guiada à sala que inclui computadores, a mesa da “Neurobox”, o robot “Eusébio” e o robot “Pepe”.
“O robot Pepe é uma plataforma de realidade aumentada, nasceu de um protocolo entre a Casa de Saúde da Idanha e o Instituto de Sistemas e Robóticas do Instituto Superior Técnico, um grupo de peritos da Casa da Saúde fez os jogos e esses foram “gamificados” pelos engenheiros do Instituto Superior Técnico”, recorda.
Pepe alia “o exercício físico ao objetivo cognitivo, foi um projeto que ganhou o prémio de Inovação em Saúde em 2022”, um reconhecimento para o Ginásio.
Perante a tecnologia, Carla Pombo esclarece que os “robots não substituem o técnico, apenas medeiam as atividades de estimulação cognitiva”.
“As portas estão abertas a quem queira participar”, e tenha mais de 65 anos, designando-se como “um projeto para a comunidade”.
“As pessoas precisam de se sentirem acolhidas e este é um espaço de interação social e de acolhimento, aberto a todos na nossa comunidade”, conclui.
O primeiro casal inscrito
Manuel e Piedade Rodrigues é um casal de 79 e 76 anos que, “através do jornal de Sintra”, teve conhecimento do Ginásio Cerebral Sénior Comunitário e quis logo inscrever-se.
“Estamos a notar que a nossa memória está a falhar, talvez pelo avançar da idade e esse foi o motivo que nos fez participar”, explica Manuel Rodrigues à Agência ECCLESIA.
“Onde vai um vai o outro” e, com esta máxima, a esposa “alinhou imediatamente” ao convite porque sente a necessidade de “melhorar a memória”.
“Estamos a ouvir uma coisa e ela, de repente, vai-se embora e precisávamos de uma coisa destas para melhorar a nossa memória, não dizemos que vai melhorar a 100% mas é bom para sairmos de casa, divertimo-nos e gosto imenso de cá vir, faz-nos bem a nós, ao ego à cabeça e a tudo, tentamos sempre vir”, explica a entrevistada.
Piedade Rodrigues conta que já distribuíram folhetos na “hidroginástica e na junta de freguesia” para dar a conhecer o Ginásio porque “vale mesmo a pena”, e partilha que a “memória é a melhor coisa que tem e se deixa de a ter não se sabe o que faz”.
Das várias atividades propostas ao casal, Manuel Rodrigues elege os jogos com o robot Pepe como favoritos, por aliarem o “movimento à memória”.
Manuel e Piedade Rodrigues, o primeiro casal inscrito neste Ginásio, “levantam-se cedo”, duas vezes por semana, para vir fazer as aulas de ginástica cerebral, sentem-se “sempre muito bem acolhidos” por todos, o que os faz voltar a cada semana com mais gosto.
Robots de jogos e afetos
O ambiente na sala divide-se entre risos e comentários, os sons dos jogos no computador, no outro lado o ritmo certeiro do robot Pepe mistura-se com os mimos que são dados ao robot Eusébio.
“Este espaço é por si só promotor da socialização, as intervenções são em grupo o que permite que se desenvolvam vínculos e haja interação social e competências sociais”, explica a neuropsicóloga Cátia Gameiro à Agência ECCLESIA.
As aulas bissemanais são dinamizadas por uma equipa multidisciplinar especializada e a inscrição gratuita no Ginásio leva a que haja “uma pertença a um grupo”.
“O pertencer a um grupo dá uma rotina, combinam almoços depois das aulas, se alguém falta há o cuidado de ligar a saber o que se passou, no fundo estamos a fomentar estas redes que são fundamentais para combater os efeitos de isolamento, muitos trazidos pela pandemia”, indica a neuropsicóloga.
Segundo Cátia Gameiro, o Ginásio ajuda ainda à socialização e competências afetivas.
“O Ginásio Cerebral Sénior Comunitário tem um papel importante no envelhecimento ativo e saudável, passa pelo treino no computador, aos jogos com o robot Pepe ou à interação com o robot Eusébio oferecido pela Câmara de Sintra, este é um exemplo de ferramenta que medeia as competências afetivas e os canais sensoriais bem como a socialização”, aponta.
A neuropsicóloga refere que “há pessoas com menos de 65 anos que também necessitam de tal acompanhamento”, “algumas são encaminhadas para aqui” e estão mais sensíveis à necessidade de prevenção.
Mais recentemente a sala recebeu a “Neurobox”, uma mala de “atividades de estimulação global para manter o cérebro ativo, retardar possíveis demências para um maior bem estar e qualidade de vida” onde as texturas, cores e números servem para “brincar a sério”.
O Ginásio Cerebral Sénior Comunitário situa-se no Cacém, fruto de uma parceria entre a Casa de Saúde da Idanha, das Irmãs Hospitaleiras com a Câmara Municipal de Sintra.
A reportagem integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, Dia Mundial do Doente, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast.
“Há uma necessidade de prevenção de hábitos e estilos de vida saudáveis e o papel do Ginásio é aumentar o nível de literacia em saúde, especificamente em saúde mental, envelhecimento e demências, e é um facto que cada vez mais pessoas com idade inferior a 65 anos nos procuram espontaneamente e estão sensíveis a este tema”.
Texto: Sónia Neves, Agência Ecclesia