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Através do programa Inovatur, com apoio da Setur (antiga Santur) e da Fapesc, 6 edições levarão você a diversos cantos de Santa Catarina através de pequenos produtores de comida artesanal e profissionais que fazem do turismo gastronômico uma experiência inesquecível.
Nesta 3ª edição, você vai conhecer Lugares incríveis que, através da arte, da natureza, do respeito e da sustentabilidade, certamente vão te inspirar e também te deixar com água na boca.
Boa viagem e bom apetite!
geraldo restaurante
Amor ao mar é o tempero desse restaurante açoriano que se inspira nas histórias dos botos pescadores.
osteria taipa
Conheça o restaurante que faz alta gastronomia aproveitando ingredientes locais da serra de SC.
lūdum
Provocativo e acolhedor: se surpreenda nesse espaço que une cozinha criativa, responsabilidade e diversidade.
recanto da oma
Em meio a uma natureza exuberante nasceu um recanto que promete despertar as suas melhores lembranças.
Boa leitura!
Uma história de amor ao mar
A lembrança de Pedro David de Andrade Luz, hoje com 31 anos, permanece viva em sua memória.
Tão viva quanto os dias de infância que passava com a mãe e as tias no Geraldo Restaurante, fundado por seu avô Geraldo no canal dos molhes da barra de Laguna, em 1955.
Pescador, seu Geraldo pendurava os peixes ainda vivos dentro da água do canal para que não estragassem. Ali montou seu ponto de venda, que mais tarde virou um mercadinho, onde vendia produtos a granel. Seu espírito empreendedor foi sempre acompanhado pela esposa Arlete.
Ela começou a fazer salgadinhos como risoles e camarão recheado para incrementar as vendas no mercado.
Lá pelos anos 1970, quando os surfistas passaram a frequentar os molhes, o casal decidiu ampliar o cardápio.
Eles passaram a servir comidinha caseira, com pratos feitos com arroz, feijão, farofa, pirão e peixe fresco.
Ali começava a trajetória de 68 anos do Geraldo Restaurante, hoje com Pedro David como responsável, e sua mãe, Edna David, à frente da cozinha.
Uma história de amor e dedicação que dá continuidade ao legado de seu Geraldo e dona Arlete.
Os saborosos pratos açorianos que Edna criou nos mais de 40 anos na cozinha do restaurante, são também resultado da qualidade dos frutos do mar trazidos por seu marido Vilmar de Andrade, filho de seu Geraldo.
É ele quem toca a embarcação que abastece o estabelecimento com tainhas, anchovas e pescadas.
“O camarão e o linguado a gente compra aqui da região”, conta Pedro.
Item que acompanha todos os pratos desde os tempos de dona Arlete, a farofa é feita com farinha oriunda da própria cidade de Laguna.
Segundo Pedro, estudos apontam a existência dos botos na Lagoa de Santo Antônio há pelo menos 150 anos.
Atualmente, em número já reduzido, uma média de 50 botos ainda frequentam o canal da barra.
“A colônia vem diminuindo por três motivos principais: a poluição da bacia do complexo lagunar, as redes de pesca que acabam prendendo os botos novos e inexperientes, e as embarcações como jet skis. A gente até vê uma movimentação pra defender os botos, mas o interesse público é pequeno”, relata Pedro.
Bem diferente do que ele acredita e põe em prática.
Por saber da importância em se manter as águas limpas, investiu no tratamento de esgoto do restaurante. Uma forma de ajudar a dar continuidade à pesca cooperada entre botos e pescadores.
O Geraldo Restaurante é um local privilegiado.
A apenas 250 metros de onde acontece o espetáculo dos botos pescadores, o empreendimento não podia deixar de homenagear os animais.
Como alguns botos ganharam nomes dados pelos pescadores, três pratos do cardápio foram batizados em homenagem a animais que morreram e agora fazem parte da história local.
Quando viu esse conceito em um restaurante onde trabalhou na França, Victor Branco encontrou a inspiração para abrir um negócio na sua cidade natal.
Ele queria recriar receitas italianas enquanto ajudaria a impulsionar pequenos produtores da região de Lages, serra catarinense.
Depois de cozinhar para eventos, ele e o irmão Vinicius abriram a Osteria Taipa, cozinha ítalo catarinense que completou um ano e já faz o maior sucesso entre moradores e turistas.
Cozinha de produto é quando os produtos são as grandes estrelas do prato.
Tudo é feito para que o sabor seja preservado ao máximo, com o mínimo de processamento. Para Victor, essa relação íntima com cada produto da serra é uma inspiração diária.
"É muito melhor trabalhar com produto de qualidade, exclusivo e de procedência. Receita se encontra na internet, técnica se aprimora, mas a cozinha de produto é diferente.”
“Nela a gente entende muito bem o produto, aprende até onde pode manipular ele."
Pra eles, o amor começa já na compra dos produtos, escolhidos minuciosamente.
Muitos com Indicação Geográfica, os ingredientes são comprados de famílias agricultoras e os vinhos, de vinícolas locais.
Os laticínios de ovelha vêm de Bom Retiro e Urubici, o queijo serrano, de São José do Cerrito.
Já a truTa fresca, de Painel, e as frutas de Urupema e São Joaquim.
A sensação do restaurante, o cogumelo Porcini, típico da serra catarinense, é colhido pelos próprios chefs em matas nativas durante o outono e o inverno.
Quando falta, mais um produtor local é acionado. Economia totalmente circular.
"Principalmente quem é do interior, como a gente, precisa se ajudar, entender o processo e o produto do outro. Fazer algo viável pra ambos. Essa conexão entre toda a cadeia produtiva é de extrema importância, vai levar nosso país a outro patamar como gastronomia."
O cogumelo é atração em comidas quentes e frias, vai bem em massas e até como recheio de pizza.
O preparo mais pedido na Osteria é o nhoque ao molho de cogumelos silvestres, receita deliciosa à base de um produto que diz muito sobre o território onde é servido.
É a Itália com uma interpretação única: o tempero e o sabor do que nasce em Santa Catarina.
E um tempo que vale cada segundo, afinal, aqui comida é arte.
(Fotos com a drag queen Risotril)
Em uma casa do bairro Córrego Grande, em Florianópolis, um chef tem deixado de queixo caído quem passa por ali.
Um ambiente colorido e cheio de detalhes instigantes reflete a personalidade de Matheus Emerick: destemido, confiante e sonhador.
Nascido em Brasília em meio ao buffet de eventos de sua mãe, aos 15 anos começou a atender os clientes que ela não conseguia dar conta.
“Ali entendi que a cozinha podia ser uma profissão”.
Depois de passar pelo restaurante Maní, de Helena Rizzo, uma de suas maiores referências até hoje, Matheus desembarcou na capital catarinense para trabalhar de consultor gastronômico com um amigo.
Atendeu restaurantes na cidade, mas também Brasil afora.
Com a pandemia, firmou terreno em Florianópolis, onde se dedica integralmente ao Lūdum, seu restaurante.
É onde explora a paixão pela cozinha brasileira e investe um de seus maiores talentos, a criatividade.
As experiências vividas, o espírito independente e empreendedor, a oposição ao machismo e racismo na gastronomia e a proximidade com a cultura LGBTIAQ+ estão presentes no Lūdum para serem degustados por todos os sentidos.
Da comida e sua apresentação aos drinques exóticos. Da louça à decoração dos ambientes.
Mas o Lūdum não é somente cozinha criativa e diversidade. É também responsabilidade.
Todo o descarte é feito separadamente e recolhido por empresa especializada. Desde o óleo, que é devolvido em forma de produtos de limpeza, até o lixo orgânico, que retorna como adubo, usado na horta do quintal da casa.
E esse é um dos grandes diferenciais do restaurante.
Por isso o cardápio tem vários ingredientes direto do jardim. O engenheiro agrônomo responsável é também quem ajuda a trazer novos insumos para o menu por meio de seus contatos com pequenos produtores.
“Isso acabou virando rotina. Os produtores trazem produtos pra mim porque sabem que vou criar algo fora do comum”.
O resultado está no menu degustação, um dos poucos restaurantes da cidade a oferecer essa opção, e no menu a la carte, ambos com novidades a cada dois meses.
Do latim ‘ludo’, que significa jogo, brincadeira, Lūdum é um espaço repleto de personalidade. É a sala de jogos em que Matheus e sua equipe provocam os clientes por meio de um jogo de cores, sabores e texturas.
Na casa da família Winkler o afeto, o cheiro de comida boa preparada na cozinha, o ambiente aconchegante: tudo é capaz de despertar as melhores memórias.
Não por acaso o lugar se chama Recanto da Oma, uma homenagem a todas as omas, palavra alemã para avó.
"Minha mãe é a terceira geração de omas da propriedade. Ela não tem mais saúde para estar na cozinha, mas minhas irmãs preparam as comidas e ela faz o teste de qualidade", conta Ronald Winkler de Czekus.
Ele é bisneto da fundadora do espaço, localizado no interior de Doutor Pedrinho, a 80 quilômetros de Blumenau, Santa Catarina.
NA DÉCADA DE 30, ESTE FOI O PRIMEIRO CHÃO DA FAMÍLIA FORMADA POR UM IMIGRANTE ALEMÃO E UMA AGRICULTORA LOCAL.
Extração de madeira, de carvão e produção de alimentos foram as atividades que sustentaram os Winkler ao longo do tempo, até que em 2004 houve a descoberta que mudaria tudo na fazenda: o turismo rural.
Hoje, o Recanto oferece uma experiência turística completa em meio às paisagens únicas da Mata Atlântica.
Mas também é possível ir só para comer café colonial, almoço e jantar: tudo preparado pelos moradores com receitas que passaram de oma para oma - segredinhos deixados num caderno da avó de Ronald.
Bem jovem, aos 14 anos, ela foi trabalhar como auxiliar de cozinha e registrou tudo que aprendeu em um livro que ainda hoje guia a cozinha da família.
Além de provar as delícias tradicionais, é possível se hospedar em cabanas para grupos, famílias e casais. Prepare-se para acordar ao som dos passarinhos!
A história com o turismo começou durante um projeto do Sebrae chamado Roteiros Turísticos no Vale Europeu (antigo Vale do Itajaí).
Ronald e as irmãs viram a possibilidade de receber pessoas para compartilhar um pouco da história e dos sabores da família.
"Percebemos que as pessoas vinham com brilhos nos olhos... achavam tudo lindo! Então a gente viu que podia ser uma fonte de renda e começou a divulgar a propriedade."
No início, recebiam 20 pessoas por ano; hoje, são 80 por final de semana.
Ele conta que as cachoeiras da região podem estar ameaçadas por um projeto de hidrelétrica para o rio.
Conforme a lei municipal, qualquer projeto do tipo precisa passar pelo Conselho Municipal de Turismo, que já barrou três propostas.
Pro Recanto, Ronald sabe muito bem o que quer pros próximos 20, 30, 40 anos: casa cheia sempre, como as omas sempre gostaram!
Afinal, o negócio de hospedagens, refeições e passeios foi todo inspirado nas mulheres fortes da família, que diante das adversidades encontravam e seguem encontrando formas de lutar pelo local onde vivem.
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Esperamos que você tenha gostado de acompanhar essas histórias cheias de sabor neste novo formato.